Para Schwarz, existem duas questões centrais que não são explicitadas no poema e acabam por torná-lo banal: o fato de não se saber quem é seu sujeito e a não definição do que é o “tudo”. O autor afirma que se podem pressupor cinco sujeitos: o próprio poeta, e o poema assumiria ares de uma autobiografia intelectual e a frase “mudei tudo” se tornaria esdrúxula; o movimento concretista, e o poema seria então uma autopropaganda; o movimento da arte moderna internacional, e as afirmações seriam um resumo e balanço revelando (com o “mudo” final) o fracasso do movimento cultural das vanguardas dos século XX; ou então o revolucionário ao constatar que finda a revolução, o mundo continua a rodar e novas histórias são iniciadas; e, por último, se não tivesse título e assinatura, o poema poderia ser imaginado ao ar livre em um país socialista e lembraria às pessoas as transformações que ocorreram, a coletividade e a continuação da vida. Mas Schwarz afirma que não se pode decidir qual é o sujeito, pois o poema não oferece “elementos que autorizem a optar” (p.62). Quanto à segunda questão, diz o autor, ao afirmar que o alvo da transformação é o “tudo”, acabamos por não saber nada a seu respeito: o que mudou? O que mudará? Segundo Schwarz, para que o poema tivesse uma força maior, esses dois pontos teriam que ser esclarecidos. Ao final, o autor afirma que o poema é bonito, mas banal.
Roberto Schwarz mandou uma carta com o artigo para Haroldo de Campos pedindo que ele mostrasse para Augusto de Campos; mas, antes de receber a reposta, o texto foi publicado e, por essa razão, o poeta replicou-o via Folhetim. Fora declarada a batalha.
Campos utiliza-se da mesma estratégia de argumentação que Schwarz usou. O crítico procura diminuir Campos enquanto poeta dizendo que a poesia dele é ruim; o poeta irá diminuir o artigo de Schwarz - crítico expoente no Brasil - dizendo que sua crítica é fundamentada em preconceitos, que ele nutria com relação à poesia concreta como um todo, já demonstrados anteriormente.
O poeta toma o discurso de Fernando Pessoa sobre o teor sociológico na poesia para justificar-se ante as críticas de Schwarz sobre sua aparente falta de comprometimento com uma arte engajada, social. “O artista não tem que se importar com o fim social da arte” (Fernando Pessoa in “Dialética da maledicência” de Augusto de Campos). Além disso, cita a fábula da Formiga e da Cigarra de La Fontaine. Pode-se inferir que o poeta deseja fazer alusão aos sociólogos enquanto formigas trabalhadoras e às cigarras poetas que só pensam em cantar.
Para finalizar, o poeta cita o livro “Tolicionários” de Flaubert que mostra os grandes nomes da poesia mundial como Shakespeare, Byron e Victor Hugo que foram também criticados. Ele se vale dessa situação prévia para mostrar ser recorrente na história da humanidade os poetas serem execrados pela crítica contemporânea e sacralizados a posteriori.
Vimo-nos as vezes com celeumas no campo cultural. Poderíamos citar, por exemplo, no território brasileiro, a briga parnasiana entre Manuel Bandeira e Olavo Bilac que rendeu o clássico poema “Os Sapos”.
Situações como essa são interessantes e, de certa forma, produtivas, pois fomentam a discussão acerca da arte nacional e despertam um maior interesse na leitura, ainda que isso fique, em última instância, restrito à comunidade acadêmica.
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