Porém, os avanços políticos não escondiam a realidade social e econômica brasileira e o povo mergulhava numa profunda piora na qualidade de vida. Com a mudança da crítica cultural, que não mais tinha como alvo o regime, o foco passou a ser então justamente os problemas herdados da década de 70 e do regime como um todo: a inflação altíssima; a população que migrava do campo com mais intensidade atraída pela maior oferta de emprego nas cidades; o crescimento da demanda pelos serviços públicos, por novas habitações, saúde, educação e saneamento. Um caos se instalava nos centros urbanos e refletiam um inicio democrático contraditório.
A desigualdade social e a miséria começaram a ser exploradas pela literatura brasileira através do conto. Foram, na verdade, os anos 70 que representaram para o conto brasileiro o auge de sua história em um período marcado pela censura e pelo regime militar, mas alguns autores como Rubem Fonseca continuaram a retratar nos anos 80 aquilo que precisava e que de alguma maneira tentou ser dito pelos críticos do período anterior. Com todo o seu histórico político, econômico e social nada nostálgico, a década de 70 foi o berço para grandes autores expressarem toda a perturbação que estava diante dos seus olhos e do povo brasileiro. Era preciso levar até o público, de alguma maneira, a atmosfera de indignação que pairava sob a sociedade naquele momento e que, definitivamente, precisava ser superada.
Com todos esses elementos à disposição, além de Rubem Fonseca contistas como Clarice Lispector, Otto Lara Resende, entre outros, encontraram o pano de fundo ideal para trazer à tona o outro lado da realidade social - violenta, obscura, sangrenta – contrastante com aquela da parcela de classe média que vivia mergulhada no consumo. Exatamente como afirmou Ítalo Moriconi, “o contista brasileiro da década de 70 quer desafinar o coro dos contentes”.